off line

Blog para divulgação de artigos e textos jornalísticos que transgridam o conceito do jornalismo online.

Wednesday, September 12, 2012

Maestro da "Canção do Expedicionário" foi perseguido por suposto apoio aos países do Eixo

Lizbeth Batista e Roger Marzochi

Um dos mais belos hinos militares brasileiros, a “Canção do Expedicionário” poderia ser como uma prece entoada pelos soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB), enviados para a Itália a partir de julho de 1944 a fim de combater o nazi-fascismo. No dia 15 de setembro do mesmo ano, a FEB entrou em combate. E muitos soldados poderiam se apegar ao refrão da música, que ficou famosa nas vozes de Francisco Alves e Inezita Barroso: “Por mais terras que eu percorra / Não permita Deus que eu morra / Sem que volte para lá / Sem que leve por divisa, esse V que simboliza a vitória que virá.”

Um documento guardado no Arquivo Público do Estado de São Paulo traz uma curiosidade sobre um dos autores desse hino, que reflete a histeria que a Segunda Guerra causou na sociedade: Spartaco Rossi, o maestro responsável pela música, com letra do poeta e jornalista Guilherme de Almeida, foi investigado por quase um ano em inquérito da Superintendência de Segurança Pública e Social, aberto no dia 3 de outubro de 1942, sob a acusação de ser “adepto” do eixo e de injuriar o Brasil. O maestro e outras dez pessoas também foram indiciadas no mesmo inquérito.

À época, Rossi era diretor artístico e maestro da orquestra da Rádio Tupy e foi denunciado pelos músicos João França Júnior, Pascoal de Lascio e Vicente Nigro, que também faziam parte da orquestra. Entre as acusações, estavam a de que Rossi argumentava que a Alemanha e a Itália comandariam o mundo, que mandou retirar a bandeira do Brasil e dos Estados Unidos do auditório da Rádio e até pelo fato de falar alemão e ser casado com Wilma, a jovem alemã que ele conheceu em Hamburgo e com quem se casou em 1934. O maestro montou uma orquestra de brasileiros para tocar nos navios do Lloyd Brasileiro em 1929, realizando vários shows na Europa, e ficando um ano na Alemanha, antes da Segunda Guerra estourar.

Em sua defesa, Rossi, apoiado por outros músicos e pelo próprio diretor-superintendente da Rádio, Armando Bertoni, também denunciado, negou as acusações à Polícia, argumentando que partiam de músicos demitidos por ele da orquestra por serem “elementos pouco recomendáveis na orquestra, quer por serem pouco trabalhadores e esforçados, como por infringirem os dispositivos contratuais que não permitem aos músicos da emissora tocar em outra qualquer.”

João França era também chefe da orquestra do Cabaré Ok, num casarão na esquina da Ipiranga com a Rio Branco. Sobre a retirada das bandeiras do auditório, Rossi explicou que lá estavam devido a uma homenagem ao aniversário do presidente norte-americano Franklin Roosewelt e que, portanto, após a cerimônia, as bandeiras foram retiradas.

O inquérito foi arquivado no dia 8 de agosto de 1943 por falta de provas. No dia 22 de agosto, o Brasil declarou guerra ao Eixo, mesmo mês em que a FEB foi instituída. A “Canção do Expedicionário” foi gravada por Francisco Alves pela Odeon em setembro de 1944, após Guilherme e Rossi terem vencido um concurso promovido pelos veículos de comunicação de Assis Chateaubriand.

Surpresa

Ricardo Rossi, filho único do maestro, ouviu seu pai comentar apenas uma vez que já havia sido fichado, mas nunca entrou em detalhes. Para ele, é uma surpresa saber da existência desse inquérito, especialmente pelo fato de o pai ter composto a música da “Canção do Expedicionário”. “Naquela época, falar em alemão já era crime. Ele era amigo do Guilherme de Almeida e fez a música porque eles venceram um concurso”, explica Ricardo, que lembra que seu pai era um bom homem, mas extremamente rígido no comando de orquestras.

Duas pessoas que trabalharam sob a batuta do maestro também ficaram surpresas ao saberem dessas acusações. Saxofonista e clarinetista, Franco Paioletti tocou com Rossi na Rádio Nacional na década de 50 e com França Jr no Cabaré Ok, e disse que nunca ouviu nenhum rumor sobre essa história de ambos os músicos. Ele perdeu o contato com França Jr e a reportagem não conseguiu localizar sua família. “Eu nem tinha ideia. Músico sempre está em outra. Queria tocar. Éramos jovens, queríamos nos divertir. Foi uma das melhores épocas da minha vida”, disse Paioletti, em entrevista, há dois anos.

Inezita Barroso, também em entrevista há dois anos, conta que nunca ouviu essa história. Meses após sua estreia na Rádio Nacional, Inezita foi convidada para cantar com a orquestra de Rossi e se tornou uma das principais intérpretes da “Canção do Expedicionário”, a qual gravou um disco com a Orquestra da Força Pública.”Não tinha intimidade com as pessoas em fins da década de 40, principalmente uma pessoa mais velha assim.”

Ela lembra de ter encontrado Rossi e Guilherme de Almeida em algumas festas. “Até que ele (Guilherme) compôs a 'Canção do Expedicionário', que pouca gente gravou. Eu que gostava muito de banda - e a mulher do Spartaco tinha um programa de bandas, que tocava todo dia de manhã lindas coisas com banda, na Rádio Nacional - tive um contato assim com o Spartaco, de aprendiz e ele de grande maestro. Fiquei maravilhada quando li a letra da música, com a ideia do Guilherme de juntar letras famosas de músicas brasileiras. E cantei muito essa música no início da carreira, gravei com a Força Nacional, e era chamada em todos eventos para cantá-la.”

Wednesday, February 29, 2012

Ulisses Rocha montará curso de violão da Universidade da Flórida

O compositor e violonista Ulisses Rocha foi convidado pela Universidade da Flórida, na cidade de Gaines Vile, nos Estados Unidos, a montar o programa de estudos para violão da Faculdade de Música. Além disso, vai lecionar na faculdade por um ano, mostrando a importância da música brasileira no exterior e o sucesso da carreira do músico, que já gravou seis discos e tocou com importantes nomes da música brasileira como Egberto Gismonti, Paco de Lucia, Al di Meola, César Camargo Mariano, Hermeto Pascoal, Gal Costa entre vários outros artistas.

"Eu fiquei super contente (com o convite) por vários motivos. Primeiro por começar a ter noção de como a música brasilera é importante fora do país, com uma univerisadde querendo desenvolver um programa de violão. A música brasileira tem muita força. E eu sou um cara que gosta de desafios novos. E para mim é um motivo de levar a música brasileira lá fora institucionalmente. Não vou ser primeiro nem o último, porque há algum tempo univeridades americanas e européias vem se interessando pela música brasileira”, diz o músico em entrevista ao off line.

O curso será desenvolvido dentro do instituto de estudos brasileiros da universidade e as aulas, que terão enfoque de música brasileira, começarão em agosto. Com isso, o músico vai morar um ano nos Estados Unidos e terá que pedir licença da Faculdade de Música da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde também leciona violão.

Mesmo fora do País, Rocha aproveitará as folgas do calendário acadêmico para dar continuidade aos shows nos Estados Unidos e no Brasil de “Só”, o seu mais novo disco, lançado no ano passado, quando o músico decidiu gravar, sozinho, dez músicas suas na sala de sua própria casa, aproveitando o silêncio da noite.

"A Flórida não é tão longe. Se tiver show no Brasil num fim de semana, faço um bate e volta. Já fiz isso em shows na Europa. Eu fiz um bate volta uma vez com o Teco Cardoso (saxofonista) para o Kwait, foram 18 horas de viagem de ida, fomos para o show e voltamos. Em quatro dias fomos até lá e voltamos (risos). É só se organizar para manter esssa ponte.”

Shows - Agora em março, o músico se apresentará no dia 8 com o percussionista Caíto Marcontes, no projeto Encontros Musicais. Será uma jam session com muita improvisação para a dupla relembrar os velhos tempos. O local do show será no Centro Cultural b_arco, na rua Dr. Virgilio de Carvalho Pinto, 426, em Pinheiros, em São Paulo. Ingressos por meio do site www.obarco.com.br, telefone 11 3081 6986.

No dia 19 de março, Rocha se apresentará no projeto Música em Trancoso, participando de duo com César Camargo Mariano, que ainda tocará com convidados que incluem o próprio Teco Cardoso, Mônica Salmaso e Sizão Machado. Haverá, no mesmo dia, apresentações da Banda Mantiqueira e Orquestra Juvenil da Bahia. Mais informações por meio do site http://musicaemtrancoso.org.br.

Tuesday, February 21, 2012

Música de Graça já soma 100 mil downloads

O Música de Graça, criado pela fotógrafa, cantora e musicista Daniela Gurgel, já soma 100 mil downloads com as músicas que começaram a ser divulgadas no site no dia 1 de maio do ano passado. O site tem como objetivo promover a união de artistas jovens para troca de repertório e criação de novas músicas e é um importante espaço alternativo de divulgação.

Além da gravação da música para download, que pode ser baixada pela página na web, perfil no Facebook ou por meio do iTunes, Dani comanda um bate-papo descontraído com a moçada revelando mais um talento da cantora, que se tornou uma das mais importantes forças de divulgação da música de qualidade no Brasil. As entrevistas também podem ser acompanhadas por meio do site www.musicadegraca.com.br.

O site tem uma média de 40 mil acessos por mês. “É uma fagulha para mostrar algo diferente”, explica Dani. Com o site, por exemplo, “o Pedro Mariano e a Luiza Possi gravaram uma música da Luiza e ele acabou gravando no disco dele”, lembra Dani, sobre a música “Sei de Mim”, de Luiza Possi com o Dudu Falcão, gravada especialmente para o site com a participação de Conrado Goys. As gravações para o site são realizadas na Oca - Casa de Som.

Em fevereiro, o site lançou a música “Descompassamba”, parceria de Dani Gurgel e Edu Krieger, numa composição à distância, que o Edu recebeu a música por e-mail para colocar a letra. “Eu adoro compor à distância”, diz Edu, na entrevista de lançamento da música, que contou com a parceria de Joana Duáh e Sergio Krakowski.

No dia 1 de março, vai ao ar uma parceria de Vanessa Moreno, Filipe Marostica e Zezinho Pitoco. A expectativa é que se repita em 2012 o show no Auditório Ibirapuera no fim do ano, reunindo a maioria dos artistas que lançou músicas por meio do site. O show do ano passado foi vibrante, com o lançamento de uma música inédita de Dani Gurgel ainda sem nome.

Wednesday, September 28, 2011

Elefante sobre o Epte: cresce a organização para amplificar o som das big bands



"Qual banda nacional ou internacional você mais admira?”, perguntou a repórter Andréa Fischer a Luís Fernando Veríssimo, para o texto de capa da revista TopMed Magazine, de abril, maio e junho de 2011. “São muitas. Só estou um pouco desatualizado em matéria de jazz. Sempre digo que só confio em músicos de jazz que estejam mortos há pelo menos cinco anos”, respondeu. Ele é modesto. E muito bem humorado!

Na foto publicada na página que ilustra a pergunta, ele sorri, de leve, abraçado ao saxofone. “Você ensaia com o grupo ou separado?”, perguntou a repórter. “Ensaiamos nas apresentações. Me envergonho de dizer.” Boa parte do jazz, ou música instrumental, ou música instrumental brasileira - ou seja lá o nome mais apropriado - tem essa característica: "ensaiar" ao vivo. Existe, geralmente, um tema, que é o que pode fisgar o ouvinte e, ao longo da música, os músicos improvisam. É só combinar a regra.

E tem mais gente “ensaiando” ao vivo. Só para citar um caso: o Movimento Elefantes, que reúne dez big bands, que se apresentam com maior frequência no Teatro da Vila, em São Paulo. “Big” porque realmente são bandas imensas, com naipe de metais, bateria, percussão, guitarra, piano e o que mais puder entrar. Além de desenvolverem repertório autoral, colocam em prática composições de músicos consagrados.

Recentemente, por exemplo, o movimento lançou um disco com uma música de cada banda. Em 2009, haviam lançado um DVD, quando o Elefantes reunia nove bandas. A Banda Urbana foi a escolhida para abrir o disco com a música “Casa da Sogra”, composição de Léa Freire e arranjo do trompetista Rubinho Antunes, que agora torce para o São Paulo em Paris. A banda Savana, comandanda pelo maestro Branco, apresenta no disco o “Ponteio da Savana”, composição feita em homenagem à banda pelo maestro Edmundo Villani-Côrtes.

Na sequência: Projeto Meretrio com “Os primeiros serão só os primeiros”, composição e arranjo de Emiliano Sampaio; Orquestra Heartbreakers, “Não se aborreça”, composição de Guga Stroeter, Patricia Secchis e Yaniel Matos, com arranjo de Dino Barioni; Reteté Big Band, “Remember Pastels”, composição e arranjo de Thiago Alves; Banda Jazzco, “Sambalombra”, de Amador Bueno; Projeto Coisa Fina, “Dia Seguinte”, de Vinícius Pereira, com arranjo do próprio Vinícius e Vittor Cáffaro; Grupo Comboio, “Samba Pra Dori”, composição e arranjo de Rui Barossi; Soundscape Big Band, “Circlos”, de Gustavo Bugni; e a Big da Santa, com “Duda no Frevo”, de Senê e arranjo de Paulo Tinê.

O grande problema: ouvir um disco não é a mesma coisa que estar de frente a uma orquestra, quebrando a barreira imposta pela reprodutibilidade técnica de um disco. Um amigo frequentemente usa um exemplo importante sobre a música ao vivo: é o mesmo que entrar na água. A que Claude Monet pintou no quadro “Canoa sobre o Epte” está sempre em movimento. Mas só ao vivo é possível perceber isso. Abaixo, a entrevista feita por e-mail com Vinícius Pereira, o principal líder do movimento, que discute aqui as dificuldades em colocar o Elefante para navegar por vários outros rios.

"Desaprendemos a gastar com cultura"
O Movimento Elefantes foi criado para dar força às big bands e divulgar essa sonoridade para um maior número de pessoas. É possível mensurar essa exposição? Quantos shows foram feitos no primeiro ano de existência do movimento, quantos shows são feitos hoje?

Vinícius Pereira - Uma média de 65 shows por ano somando o Teatro da Vila, mais as temporadas fora (SESCS e afins) sem contar os shows fechados individualmente pelas bandas.

Há alguma ideia sobre o número de pessoas que já tiveram acesso ao som de cada uma das 10 bandas?

Vinícius Pereira - No Teatro da Vila a média é de 60 pessoas por show. 44 shows por ano. No Museu da Casa Brasileira (ano passado foram 10) a média foi de 450 por show. Fora Virada Cultural, Carnaval na Contramão, virge... num sei te dizer!

Disco e DVD são importantes para difundir o som. Mas nada substitui um show. Em sua opinião, porque parece ser tão difícil levar o Movimento para outras cidades, outros Estados, considerando, claro, que há sempre uma ou outra banda com participação de festivais importantes, como a Mostra Internacional de Música de Olinda (Mimo), que você participou com o Projeto Coisa Fina recentemente.

Vinícius Pereira - Por que desaprendemos a gastar com cultura. Substituímos a arte pelo entretenimento. Então pagamos um valor fixo mensal pelo canal de TV ou pelo acesso à NET. Fui assistir a um show incrível da Léa Freire na Casa do Núcleo, R$ 20,00 eu + R$ 20,00 a patroa. Em uma horinha e meia gastamos quarentão. É uma grana. Mas foi um puta show. Foda. Eu to reclamando de R$ 40, mas na semana passada fomos jantar com uns amigos numa pizzaria lá e a nossa parte ficou em R$ 80... Mas na hora ninguém reclamou...

O povo tá mal acostumado. Só assiste show de graça. O governo subsidia as apresentações artísticas e o SESC também. Por um lado é ótimo, o artista tem trabalho. Agora quando eles param de subsidiar, ou quando julgam caro o seu produto, você não se apresenta, por que o público foi educado a não pagar por arte, por que tem de graça. O público paga por entretenimento...

No pague quanto vale no Teatro da Vila a média de arrecadação tem sido “R$ 2,41 por pessoa”... Ou seja: precisamos reeducar as pessoas a investir em arte. É um processo que temos de viver e contar também com a ajuda daqueles conscientes, a ajudar a levar os amigos a viver a experiência do ao vivo, para ver que vale o investimento! Eu mesmo não saia de casa para ver um show a meses... depois do show de ontem (20/09), da Léa, me inspirou a ir hoje ver o Zé Menezes (que já está com 90 anos! www.zemenezes.com.br - integrou o Sexteto Radamés Gnatalli e se apresentava com o Garoto) e sexta ver o Laércio de Freitas!!! (pianista, maestro e arranjador - http://www.maritaca.art.br/laercio.html e http://www.myspace.com/laerciodefreitas)

É tão prazeroso ouvir o som do instrumento do cara, não é uma reprodução, não é o ponto de vista do cameraman, é o meu ponto de vista, audição, olfato e de todos os outros sentidos que não conseguimos catalogar. Mas voltando ao tema das bigs no interior, quanto custa contratar uma big band? Cachê de 15 músicos, transporte, hospedagem, alimentação, produção, impostos... Com o custo da apresentação de uma banda dá pra quase fazer um mês de programação com trios a quintetos...

Além de o show ser mais vivo, que outras qualidades um show pode proporcionar? Exemplo: uma coisa é ouvir com fone de ouvido o disco, ou ouvir e ver na TV o DVD, outra é entrar no mar... Uma coisa é ver o carnaval na TV, por exemplo, outra é fazer parte da bateria... Pode falar algo sobre essa relação da tecnologia fazendo a mediação com os sentidos?

Vinícius Pereira - O que acontece no palco depende do que acontece na platéia. O público tem um papel fundamental no resultado musical de qualquer apresentação. Quando o músico está inteiro, realmente envolvido com a música que está fazendo, é inevitável o público sentir tudo isso e gerar sensações indescritíveis que o público manisfestará ao final da música seja com aplausos, gritos, assovios etc... Quando essa energia volta pro palco o músico percebe que sim, que não era coisa da cabeça dele, acontecetu arte ali mesmo e isso o deixa mais seguro e à vontade para se deixar levar mais, para se deixar tomar por aquela coisa que não dá pra descrever e deixar acontecer arte na frente de todo mundo.

Quanto mais o público está inteiro na apresentação, mais encorajado o artista se sente para despirse diante dele e se arriscar a dizer o que sabe e o que não sabe, a deixar seu corpo se transformar numa ponte entre o objetivo e o subjetivo, entre o cá e o lá, e toda essa energia só prova quem está lá. Assim como a TV não transmite o maravilhoso aroma do perfume daquela atriz, não transmite também essa energia toda que acontece ao vivo. Transmite todas as notas. Mas a energia...

Não seria o caso de buscar recursos, por meio de crowdfunding, por exemplo, para conseguir concretizar algum projeto de apresentação das bandas do movimento em coretos pelo interior do Estado? Ou promover um contato com diretórios acadêmicos para realizar apresentações em universidades?

Vinícius Pereira - Pretendemos realizar diversos tipos de projetos de circulação de shows, com os mais diversos parceiros e plataformas de financiamentos. Mas antes, decidimos organizar a casa. Estamos a 3 anos vivendo na informalidade total e agora decidimos que chegou o momento de arrumar a casa, criarmos uma pessoa jurídica para podermos nos inscrever em editais, etc. Estamos elaborando o estatuto da nossa associação!!! Com isso pronto começaremos a buscar parceiros pra nos ajudar a fazer a coisa circular pra valer! E vai dar certo, tenho certeza.


Arte do Elefante sobre o Epte Muito Bem Acompanhado é do menino MTC; foto desfocada da Reteté é do arquivo pessoal de Roger Marzochi; foto do maestro Branco obtida no site da Savana; foto do Projeto Coisa Fina obtida no site da banda.

Wednesday, September 14, 2011

O ouvido é todo o corpo


Os músicos sofrem muitas injustiças nessa vida. No interior de São Paulo, por exemplo, um motel uma vez usou um trechinho da trilha de Miles Davis para o filme "Ascensor para o Cadafalso” (Ascenseur Pour l'échafaud – 1957), de Louis Malle, numa propaganda no rádio. Propaganda enganosa: nenhum motel seria grande o bastante para tantos amantes. E o risco de processo era até maior, ainda mais no interior do planeta, onde as pessoas têm o infeliz prazer de dividir sexo e amor. Em Miles, Barney Wilen (sax tenor), René Urtreger (piano), Pierre Michelot (contrabaixo) e Kenny Clarke (bateria) não há um instante sem sexo e amor, juntos, entre todos e quem escuta, nem que seja por apenas três eternos segundos.


Mas há quem possa não ter escutado a trilha sonora inteira e visto apenas o filme e, acostumado à trilha sonora de videogame ou às reportagens da revista Playboy, acusar quem escreve de ladrão, bicha e maconheiro. “Vejo como as pessoas fazem leituras rasas das coisas. Vira uma manchete assim, do sexo anal, e ninguém reparou que não estava falando de mim, mas de uma maneira geral. Mas o que quiseram deixar como fato foi isso. A gente se revolta porque o mundo é um pouco injusto”, disse a cantora Sandy em entrevista à TV UOL divulgada no dia 31/08, sobre o fatídico dia que causou o gozo no país dos eunucos, quando a supracitada revista divulgou na web trechinhos (eles, de novo) do que viria a ser a sua incrível descoberta.


Ouvido de serpente - Tudo isso porque no filme, o romance proibido entre Julien Tavernier (Maurice Ronet) e Florence Carala (Jeanne Moreau, na foto acima com o ouvido no trompete de Miles!) é frustrado. A conversa apaixonada ao telefone logo no início da película e, no fim, as fotos reveladas de seu triste destino, são os únicos momentos visíveis dos vestígios de um amor. O resto é tensão, solidão, desespero e medo. Onde está amor e sexo?


A poetisa, cantora e atriz Beatriz Azevedo ensina em “Alegria”, seu último disco, gravado graças ao apoio da Petrobras em cultura, em 2008. Essa mulher de cabelos encaracolados atrai só pela sua beleza, mas que logo revela a extensão da alma em suas letras e em seu ritmo, uma mistura de Brasil e do mundo que, de tão saborosa, vira pop - para a tristeza de quem anda pensando em “salvar o pop”, Beatriz já fez isso há três anos. O disco tem a direção de Cristovão Bastos e músicos como o trombonista Bocato e participações especiais de Vinícius Cantuária e Tom Zé.


Na música e na letra de “Rede”, terceira faixa, além de deixar o ouvinte em êxtase, provoca em prosa: “Devoração de Partido Alto carioca com a mitologia das serpentes, simbolizando sabedoria e cura. As serpentes que protegem a meditação de Buda em sete espirais. O encantador de serpentes precisa dançar com sua flauta – a cobra é surda. Não é o som que encanta, e sim o movimento. Auto-devoração, oroboros.” Bem, de tudo isso, ouvi-la a princípio já desperta o seguinte: o ouvido da cobra é todo o corpo, porque o som da flauta (e da sua voz) também é movimento do ar. Quando se chega em “Circo”, a sexta faixa, a beleza é a da barriga do mundo, no centro de um outro planeta, parece até platônico.


Mas esse amor é real, está ao alcance do corpo e da alma, e tem sido emanado por muita gente. Basta ouvir, entrar na água, ir a um show. No dia 29/08, esteve em São Paulo a cantora Karen Souza, sobre a qual não se precisa saber muito, assim como Beatriz, por darem sabor ao que fazem e, igualmente, por dizerem: goste ou não, é isso o que eu faço.


O show durou para sempre naquele Teatro Bradesco, repleto de gente frente a uma mulher não apenas belíssima, mas com uma voz incrível e uma banda muito feliz, que se inspirava sempre naquilo que a estrela deveria estar esperando como resposta às suas frases, súplicas e mais íntimos segredos, mesmo cantando rock dos anos 80/90 em arranjos jazzísticos. Quando “Tainted Love” parecia o ápice, ela apresentou a banda de um jeito muito bom no meio da música “Wake Up and Make Love With Me”. A devoração poética foi total. E tão completa quanto ouvir Júlia Tygel em “Entremeados”, com Vana Bock, Adriana Holtz, Thais Nicodemo e João Taubkin em declarações de amor eterno à humanidade, abraçados de um lado pela "música popular brasileira" e, de outro, pela música dita "erudita" em uma noite sem lua cheia. No meio deles todos, nós!

Tuesday, September 13, 2011

Música livre, pero no mucho

Se você apontar o dedo no nariz de alguém, saiba que outros três estarão apontados para o seu. É o que diz um amigo, no tempo certo da comédia. E se há beleza na comédia, por que ela é tão rara em “Paralelas”, o novo disco gravado em parceria entre os saxofonistas Marcelo Coelho, do Brasil, e Rodrigo Dominguez, da Argentina, lançado pelo selo especializado em música de qualidade Tratore?


Há realmente algo de estranho com alguns intelectuais, como já notara Eduardo Galeano. Estuda-se tanto para que se não são capazes de exercer sua liberdade de expressão ou dar sabor ao que fazem? Marcelo Coelho fez mestrado em “Jazz Performance” pela “University of Miami” e tem doutorado em composição pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nada contra estudar, por favor. Isso é sempre bom aqui ou no exterior.


Mas continuando: “Marcelo atualmente desenvolve seu trabalho de criação no departamento de Música da USP, atráves do laboratório de composição e improvisação, tema do seu projeto de pós-doutorado”, explica o release da assessoria, que antes já havia informado que “Marcelo nos apresenta uma obra digna de nota, que pode dar uma contribuição significativa para o desenvolvimento da linguagem musical contemporânea”.


Ele estudou, conheceu o mundo, aprendeu padrões e técnicas ao máximo para conseguir ser livre. É um trabalho hercúleo o dele, tendo em vista o que já fazem muitos músicos dessa dita área “contemporânea” e está longe de conseguir chegar próximo de material digno de nota como um John Coltrane, Ornette Coleman ou, porque não, de Pixinguinha, Cartola, Heitor Villa-Lobos, Armando Lôbo, Beto Sporleder, Rui Barossi e outros músicos que atualmente exercem plenamente a liberdade, ainda tão almejada por Coelho e Domingues, que esperam passivos pela salvação de alguma alma caridosa para conseguir levar a sua música para o mundo. A iniciativa é também livre.


Essa história de “música livre” nos Estados Unidos não se restringia só a mudanças técnicas, no fazer musical, mas na quebra de padrões pré-estabelecidos num reflexo próximo ao da luta pelos direitos civis. E evoluiu até as experiências do compositor John Cage, maluco beleza que defendia o prazer do som pelo som, sem qualquer relação com sensações e que chegou a fazer a famosa obra 4’33’’, uma orquestra inteira em silêncio durante quatro minutos e trinta e três segundos. Mas há um prazer imenso no silêncio ao vivo e como o silêncio joga para dentro da música quem escuta.


Mas o interessante é: isso não virar rótulo. Quando Villa-Lobos subiu ao palco do Municipal na Semana de Arte Moderna de 22 com um pé com pano e outro sem, era mais por questões de saúde que estéticas, apesar de a imagem do maestro com uma perna na tradição e a outra no popular fosse o símbolo de sua arte livre. Mas a “métrica” livre e inovadora só parece existir de fato quando mudanças muito mais amplas ocorrem na música.


Da mesma forma que o jazz nos EUA acabou incorporando os ruídos das máquinas, da cidade, como por exemplo, no som de um trem, como também fez Villa-Lobos, seja na melodia ou no ritmo, ou em ambos, muita gente consegue fazer música hoje a partir de ordenação do ruído randômico e aleatrório de um computador pessoal com todo o vazio existencial das redes difusas de relacionamentos superficiais. É bom dar uma tungadinha no Facebook sempre.


Pode ser que haja música que represente o fim de uma história de amor; ou o começo de uma nova forma de pensar a sociedade; ou pode não ser nada, mas mesmo assim, de alguma forma inexplicável, gera um prazer ao transmitir o "sabor" de um sentido intangível. Por isso, poético, belo, divino e demoníaco em sua extrema humanidade, capaz de dar dimensões de cor, sabor e, principalemte calor. Ou dane-se Cage, apenas o som do roronar dos pneus no asfalto.


Mas em "Paralelas", Coelho e Dominguez são mais vítimas do vazio existencial e das redes de relacionamento que geradores de prazeres e sentidos intangíveis. Das sete músicas, duas são dignas de nota: “Sono”, composição do brasileiro, e “Lechuza”, tema do argentino. Esta tem um pouquinho mais de sabor que "Sono", porque é a única música onde dá para ouvir um sax soprano e um tenor juntos. O disco todo são os dois tenores buscando se completar. Escute. Mas se embrulhar o estômago, procure na sequência ouvir "Remember Pastels", música de Thiago Alves da Reteté Big Band, que está no novo disco do Movimento Elefantes. Parece que dão valor só quando se faz "irrelevâncias comparadas", importante arte multidisciplinar.



Thursday, July 22, 2010

A brisa, o samurai e a Terra


E dizem que fumar faz mal à saúde. Sexta-feira, 16 de julho de 2010. 23h33. Saio para comprar pão francês e cigarro na padaria. E um chocolate. Ninguém é de ferro. Na volta, num desses bares de esquina pé sujo, uma banda toca “Samurai”. O rapaz no vocal sente o que está cantando, diz as palavras na medida certa. O groove está garantido, num baixista jovem como o cantor, movendo-se ao ritmo da música com o baterista.

Faltava teclado e sopros? Não importa, porque comparar é pura besteira. Ali, naquele momento, Djavan estava presente. E deveria estar sorrindo, ouvindo caras muito jovens vibrando da mesma forma. “Qual é o nome da banda”, pergunto para o senhor na porta, por traz de uma grade branca, igual a sua camisa, com um bloco na mão. “Brisa”, diz.

E merece o nome. Tem gente que vai dizer que parece muito romântico, muito bobinho. Mas quem não se rendeu à brisa do mar? Fechar os olhos e poder deixar fluir o som das ondas dentro do corpo, o cheiro e o vento em todo o lugar. E como não se molhar? Muita gente acha cafona, brega e pegajoso demais “Vento no litoral”, do Renato Russo. Já até tem lista na web com a chamada “música para fim de relacionamentos”! Que reducionismo!

Também não dá para dizer que "Samurai" é uma música "alegre". "De começo de relacionamentos." Nem sempre o texto é fiel ao significado. Depende do clima, do ritmo e de quem a faz e ouve. Para alguns, a brisa do mar precisa ser banida. Move o mercado de antiferrugens, lavagens de veículos extras, janelas e batentes resistentes. Quem mora no litoral, sabe como é difícil combatê-la.

Mas não questione o que vem do mar, mas o que vem de dentro. Da terra, jorra petróleo sem parar desde abril. Fumar pode sim fazer mal à saúde, mas o vício antecede a política. E há outros vícios, muito mais arraigados, os quais a Brisa do "Samurai" faz sua defesa.



“Aaaaiii
Quanto querer
Cabe em meu coração..

Aaaaaiii...
Me faz sofrer
Faz que me mata
E se não mata fere...

Vaaaaiii...
Sem me dizer
Na casa da paixão...

Saaaaii...
Quando bem quer
Traz uma praga
E me afaga a pele..

Crescei, luar
Prá iluminar as trevas
Fundas da paixão...

Eu quis lutar
Contra o poder do amor
Cai nos pés do vencedor
Para ser o serviçal
De um samurai
Mas eu tô tão feliz!
Dizem que o amor
Atrai...”