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Blog para divulgação de artigos e textos jornalísticos que transgridam o conceito do jornalismo online.

Monday, October 30, 2006

Os jardins de Marcelino

No hall de um banco no segundo andar de um jornal na capital paulista, próximo ao caixa de atendimento eletrônico, as folhas de um arbusto são alisadas com um pano branco, enquanto clientes esbaforidos entram e saem do local, tiram e colocam um cartão numa máquina esperando a saída de folhas do extrato bancário, de cédulas de dinheiro. Ele vai borrifando um líquido mágico, envolvendo a folhagem numa nuvem de gotículas como a um abraço. O arbusto retoma a cor verde-bandeira, refletindo até mesmo a fraca luz fria da lâmpada no teto e os restos de sol que a parede de vidro a frente deixa passar, espremida entre dois prédios. Seu Pedro Marcelino não gosta de dizer que é jardineiro. Não que tenha vergonha da profissão, mas porque para ele não é o nome que importa, mas o amor que tem pelas plantas que cuida. E avalia que nunca, ninguém, pode-se dizer “O Jardineiro”. “Acima sempre há alguém que conhece mais que você.”


Aos 70 anos, o menino que começou a trabalhar como sapateiro, interessou-se pela jardinagem quando a moeda ainda era chamada de réis. Começou a trabalhar em uma empresa de paisagismo na qual o engenheiro agrônomo dava aulas sobre agronomia, conhecimento do qual ele se orgulha tanto pela experiência como pela bondade com a qual o engenheiro lhe ensinara. Mas apesar do saber técnico, das misturas de adubos e do tamanho das covas necessárias para dar às raízes a força para sustentar seus caules, seu Marcelino desenvolveu uma sensibilidade tal, que não seria exagero dizer que ele tem o dom de conversar com as plantas. Seus cabelos totalmente brancos, que eram compridos até bem pouco tempo, mas que aparara para “se apresentar melhor no trabalho”, e seu olhar tenro em meio às sobrancelhas esparramadas, rejuvenescem-se ainda mais voltando no tempo para contar como tudo começou.


Nem todos os engenheiros, que ele chama de doutores, eram altivos como aquele que ensinou sua arte. Lembra que certa vez, uma “doutora” fazia a mistura errada de adubo e terra. Com simplicidade e respeito, Marcelino avisou que aquilo prejudicaria as plantas. “A engenheira aqui sou eu”, retrucara a agrônoma. Entendendo o recado, enquanto ela trabalhava nos vasos dispostos em um lado do corredor de um escritório, Marcelino fez o que sua experiência e sensibilidade mandavam em outro grupo de vasos.


Semanas depois, o cliente que estava de volta ao escritório, reclamando da morte de algumas plantas. O patrão questionou Marcelino, que teve que contar o que ocorreu. As flores que ele plantara, estavam vivas e frondosas. “Engenheiro, as vezes, gosta de falar bonito, falar o nome científico das plantas. Você fica espantado ao ouvir o nome, qual seria aquela planta que ele disse agora? E aí vem e você vê que é uma dessas que a gente vê sempre por aí”, sorri. “Os doutores estudam o que eu vejo na prática.”


De arrepiar – Ele lembra da primeira vez em que decidiu trabalhar por conta própria, após sair desse seu primeiro emprego. Passou por uma mansão no Morumbi, cujos jardins estavam horríveis. Pediu ao segurança que chamasse a patroa, para oferecer o seu serviço. Ela se empolgou, porque Marcelino prometeu maravilhas e cobrou só “200 réis”. “Ela queria conversar primeiro com o marido, no almoço, e pediu para eu voltar.” Quando voltou, a madame o dispensou, dizendo que iriam viajar para os Estados Unidos naquela mesma semana. Chateado, saiu da casa e, na portaria, o segurança perguntou se havia conseguido o emprego. “Não”, respondeu. “Eles vão viajar, e...”


“Rapaz, vem cá! Eu ouvi a conversa deles no almoço. O patrão mandou te dispensar, porque disse que você cobrou muito pouco e, por isso, não deveria entender nada de jardim”, disse o segurança. “Vê se te dá mais valor menino!”, relembra o conselho, contando a história e mostrando o braço com os pelos arrepiados pela recordação. Na mansão ao lado, chamou a outra patroa e cobrou algo como “ 20 mil réis”. Ela aceitou, fazendo brotar um jardim incrível. “E não é que essa patroa, que aceitou o serviço, era prima daquela primeira! Não acreditei quando a vi, dias depois, lá na casa que eu trabalhei, querendo meu serviço.”


Nesses quase 60 anos plantando flores, Marcelino carrega um pouco de cada planta que fez germinar na simplicidade de enfrentar a vida, que apesar de muitas vezes parecer estéril, explode em flor na realização de pequenos sonhos, que fazem da existência um jardim melhor.

Wednesday, October 11, 2006

Faraway, so close

"You...you, whom we love...you do not see us...you do not hear us.You imagine us in the far distance... yet we are so near. We are messengers...who bring closeness to those who are distant. The light to those who are in darkness. The word to those who question. We are neither the light, nor the message. We are the messengers. We...are nothing. You are, for us… everything."